Para
muitos o show do Paul McCartney em Goiânia soa somente como a vinda de um ex componente
do conjunto The Beatles, que até hoje faz sucesso com suas músicas antigas e
novas. A vinda de um mito dos anos 60 a
Goiânia encantou a todos, porém, a geração que viveu ao som de Beatles,
Rollings Stones, Cat Stevens, Janes Joplin, Rod Stewart, James Taylor e tantos
outros estrangeiros que embalavam as nossas festinhas, muitas vezes após a
missa das sete na Catedral Metropolitana, precisava ser beliscada para sentir
que era real o Paul que estava ali no palco.
Para
entender como isso é importante para esses jovens é só se transportar para os
anos 60 e pensar que era o máximo para eles escutar e dançar as músicas
cantadas pelos Beatles. Nos primeiros anos o grande sucesso foi “Twist and
Shout”, era preciso aprender a dançar os mais de cem passos do twist, que
variavam de acordo com a imaginação. Depois veio o hully gully, a moçada ensaiava
os passos para dançar sincronizada e tudo sair bonitinho copiando o estilo dos
quatro rapazes que se apresentavam dançando.
Era
muito difícil ter acesso às apresentações deles cantando as músicas gravadas,
ver os quatro rapazes ao vivo era coisa rara, pouco apareciam na televisão, o
nosso Jornal Nacional eram os jornais
que antecediam os filmes nos cinemas da cidade, ainda assim, eram poucos
minutos e muito rápido. A melhor divulgação eram os seus filmes, porém, só podiam
ser assistidos quando um cinema exibia, pois, ainda, não tinha fita VHS, muito
menos DVD. Os jovens se contentavam em escutar as músicas gravadas em discos de
vinil, que eram tocados em vitrolas imensas, que somente os mais ricos tinham
em casa. O que se podia ter eram as
fotos, revistas e as capas dos discos Long Play.
Goiânia
tinha pouco mais de cento e cinquenta mil habitantes, Brasília tinha acabado de
ser inaugurada. A cidade não tinha vida noturna para os jovens, sair à noite ou
para jantar em algum restaurante era coisa raríssima, o bom era tomar um lanche
de dia mesmo lá no Alkar, na Avenida Tocantins, que tinha o melhor cachorro
quente, sem molho, assado na grelha elétrica, como o americano faz ou comer uma
pizza na Pizzaria 110, na Rua 3, no Centro, depois da aula de Francês – naquele
tempo se aprendia Francês na Aliança
Francesa ali na Anhanguera. Imaginem aos Domingos sair de casa para assistir no
Cine Teatro Goiânia o desenho animado de Tom e Jerry, às dez horas da manhã. Poucas
opções de lazer oferecia a jovem Goiânia, programas como esses, simples e
inocentes, eram o que se tinha para fazer e para quem não tinha muitas opções escutar
Beatles e dançar Hully Gully era o máximo e se tocasse Something ou Yesterday se
dançava abraçadinhos, de rosto colado, sentido o coração sair pela boca se o parceiro
fosse uma paquera.
Ontem,
aqui e ali os olhares se encontravam, era nítido que os grisalhos e os cabeças
brancas viveram essa época, senão em Goiânia em outras cidades brasileiras, parceiros
dessas coisas antigas. Eram os rapazes e moças que, naquele tempo, se tivessem
falado que um dos Beatles viria a Goiânia, soaria como algo excepcional e
impossível de acontecer, equivaleria a um fato como quando o homem chegou à
Lua. Por isso, com a família beatlemaníaca, todos estavam ali prestando seu
tributo a um dos mais ilustres cantores da nossa geração.
Não
se pode medir o valor desse fato para esses goianos que se emocionaram demais
ao cantar com ele as mesmas músicas que eram tocadas em suas vitrolas que hoje
são peças de museus. Foi um sonho que se realizou, talvez por isso quase que o
tempo todo um “Grass Hopper”, um gafanhoto goiano, posou em seu braço e grudou
ali, esperançoso de que o sonho não acabasse, mas, teve que acabar, Paul tinha
que “vazar”. Era Paul mesmo ali no palco, cantando o que se esperava que ele
cantasse. Um dia de muita emoção, decididamente não esqueceremos. Todos se encantaram, cantaram, dançaram à moda de
antigamente e se divertiram como se fosse ontem. Obrigada, Sir Paul McCartney,
por continuar embalando com suas músicas as nossas vidas.