Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras, escreve
E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com
“Vista da parte central da Praça Cívica de Goiânia, vendo-se em primeiro plano o coreto e, ao fundo, o Palácio do Governo, ladeado pelos edifícios da Diretoria da Fazenda e Palácio da Justiça”.
Isso é a legenda da foto, estampada no nº 21 (Ano III) da Oeste (revista mensal), outubro de 1944. Notem que, bem no centro da Praça, no local onde hoje temos o Monumento às Três Raças, ficava um obelisco. Eram três, esse aí era o central e o maior deles (os outros dois estão lá, sem os quatro cilindros de vidro fosco que protegiam lâmpadas. Esse obelisco, que integrava a arquitetura da Praça Cívica, foi demolido para que “os negrões” ocupassem seu espaço. Como se fizessem falta, ou como se o obelisco fosse nota dissonante.
Era a segunda metade dos anos de 1960, ou seja, a ditadura ainda curtia lua-de-mel (juro que escrevi lua-de-mal... Ato falho?) consigo mesma. Ferir as imagens da cidade, tal como havia sido concebida, passou a ser esporte preferido dos inimigos (ou invejosos) de Pedro Ludovico: demoliram o obelisco; transfiguraram o coreto (mais tarde, os prefeitos biônicos Rubens Guerra e Hélio Mauro, o restaurariam); violentaram o desenho (ou design, como é da moda) dos canteiros centrais da Praça Cívica e Rua 82; desfiguraram toda a Avenida Goiás (Pedro Wilson foi quem cuidou de nos devolver os jardins e bancos ao jeito dos tempos originais); arrasaram o complexo arquitetônico da Santa Casa de Goiânia.
Mas ainda não acabou... A Avenida Anhanguera, que se estendia desde a Praça A, em Campinas, até sua confluência com a BR-153 (antiga BR-14), era um cartão-postal dos mais notáveis de Goiânia por suas palmeiras de guariroba alinhadas no canteiro do meio. Em sua primeira gestão como prefeito de Goiânia (1966/69), Iris Rezende a estenderia até as saídas para Trindade e Inhumas, mantendo a fila de coqueirinhos.
Era 1998, o último ano da dinastia do PMDB em Goiás. Enquanto a campanha eleitoral absorvia atenções, o governo (de poucos meses) de vice e de presidente da Assembleia daria conta de desfigurar a extensa Avenida Anhanguera, removendo o canteiro central um pouco mais de cem mil palmeiras.
Lembrei-me de Pedro Ludovico, durante missa campal na Praça Tamandaré (era um largo de terra vermelha, sem vegetação, hospedagem de parques e circos), no aniversário da cidade em 1970. Recomendaram ao bispo celebrante que omitisse o fundador de Goiânia pois estavam lá o governador nomeado, o comandante do quartel do Exército, oficiais da Polícia Militar, delegados da tortura, o prefeito biônico... Mas Pedro não aceitou o silêncio: solene e decidido, chegou-se ao altar (não me lembro se havia um microfone; devia haver) e deixou bem claro que não tinha por hábito sair de casa para ouvir desaforo.
O vexame ficou por conta das “autoridades”.
Agora, outras autoridades, desprovidas de votos e de competência, decidem por mais um agravo a Pedro Ludovico: decidem, depois de quase vinte anos de adiamentos constantes, que a (finalmente concluída) estátua eqüestre do fundador de Goiânia seja estabelecida no quintal do Palácio.
Não se justifica, de jeito nenhum! Aquele pedacinho de chão era, sim, o quintal do Palácio das Esmeraldas. Ganhou status de jardim porque o filho de Pedro, Mauro Borges, idealizou e começou a construção do Centro Administrativo. A localização desse prédio tem justificativa: em 1961, quando começou a concebê-lo, Mauro Borges notou que a cidade crescia para o Sul. Imaginou que, num dado momento, algum administrador haveria de estender a Avenida Goiás para o rumo Sul, então o edifício de onze andares foi ali construído para proteger o Palácio (declaração de Mauro Borges ao repórter Benevides de Almeida, da Folha de Goiás, na década de 1970).
Coisas erradas são confirmadas, aqui em Goiânia: as invasões da Rua 115; o antigo Palácio das Campinas (um barracão de péssimo gosto na Praça Cívica, em frente aos Correios); a remoção das características do edifício originais dos Correios (era “art déco”, virou nada); a instalação do Monumento das Três Raças em lugar do obelisco... Enquanto isso, coisas que deveriam ser indiscutíveis viram piada. Como isso de pôr a estátua de Pedro no quintal, no canto que, disseram alguns de uma estranha “comissão de notáveis”, é o único disponível.
Em se tratando de Pedro Ludovico, disponível é o melhor lugar – e o quintal não o é. Seja o local das três figuras símbolo das raças (?). Como também seria de boa iniciativa a reconstrução do obelisco maior, a remoção dos automóveis da Praça Cívica, a demolição do pardieiro que já foi sede da Prefeitura.
Textos de Maria Dulce Loyola Teixeira ou outros, previamente, aprovados, sobre histórias goianas importantes para a família da administradora da página que tenha relação com os pioneiros de Goiânia, com genealogia e com a cultura e história do Estado de Goiás. Foto: casa da família de Pedro Ludovico em Goiânia, hoje Museu.
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