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sábado, 16 de outubro de 2010

MEMÓRIA - O Popular - Núbia Lôbo

Há 45 anos, militares tiravam Mauro Borges do governo

Faltando três meses para completar 90 anos, o ex-governador Mauro Borges vive hoje uma data marcante de sua biografia – 45 anos de sua deposição do governo de Goiás. Em 26 de novembro de 1964, o filho de Pedro Ludovico Teixeira e Gercina Borges deixava o Palácio das Esmeraldas – não sem antes ensaiar uma resistência com apoio popular – após o anúncio de intervenção federal no Estado pelo então presidente da República, general Humberto de Alencar Castello Branco.
Do governo marcado pela modernização que implantou no Estado, por meio do Plano MB de administração que traçou diretrizes de desenvolvimento baseadas no potencial econômico de Goiás, Mauro lembra em detalhes e com orgulho, apesar dos avanços do Mal de Alzheimer. Nora do ex-governador, Maria Dulce Loyola Teixeira conta que o sogro é uma pessoa extremamente feliz e que um de seus prazeres é cantar as letras que entoava na época em que prestou serviços à infantaria do Exército brasileiro.
Desde 1987, ano da morte de sua mulher, Maria de Lurdes Estivallet Teixeira, Mauro mora sozinho em um apartamento no Setor Oeste, cercado por enfermeiros e familiares. Com 4 filhos (todos casados), 14 netos e 2 bisnetos, o ex-governador optou por não se casar novamente. Hoje Mauro quase não sai de casa.
“Ele fazia caminhadas, mas agora evitamos que ele faça muito esforço porque seu joelho está fragilizado por uma artrose. Ele sai para passear e fazer consultas médicas. E em casa é atendido por um terapeuta e um massagista”, conta a nora.
O Mal de Alzheimer se manifestou com maior intensidade em 2007. De lá para cá, o ex-governador vive momentos em que sua memória recente se perde, mas ele jamais esquece do pai e da herança político-administrativa que sua família deixou para o Estado.
“Quem não sabe da doença, não percebe que ele luta contra ela. Está sempre muito bem-humorado, muito bem-educado, sabe agradar homens e mulheres”, diz Dulce. Para quem estava acostumado ao convívio com Mauro, a perda de memória provoca tristeza. “É difícil porque ele foi muito inteligente, capaz, com profundo conhecimento de mundo. E não conseguimos mais conversar sobre diversas coisas”, afirma a nora.
Resistência
Apesar da memória afetada, a saúde de Mauro resiste ao tempo tão bem como ele resistiu às pressões dos militares que comandavam o País enquanto ele estava à frente do Estado. Mesmo obrigado a deixar o governo, encontrou no povo goiano o apoio de que precisava para aceitar o golpe dos militares.
Em entrevista ao jornalista Hélio Rocha, publicada no livro Os inquilinos da Casa Verde, Mauro conta que muitos goianos queriam lutar contra a intervenção federal, que ele inclusive tentou comprar munição para uma possível guerra civil, mas que decidiu obedecer a legalidade daquele ato do governo militar.
“Na verdade, eu me preparei. Seria uma luta um pouco mais que suicida, ou um pouco menos. Eu mesmo fiz um plano. Faríamos coisas muito graves. E essas coisas não precisaram ser feitas. Saí carregado até a porta da casa do meu pai e mais digno eu não podia sair”, lembrou o ex-governador na entrevista concedida em março de 1998 ao articulista do POPULAR.
História
Mauro Borges chegou ao Palácio das Esmeraldas em 1961, eleito para ficar no governo durante cinco anos. Com o início da carreira política apadrinhada pelo pai, Pedro Ludovico, Mauro chegou ao governo pelo PSD – partido ludoviquista. Enfrentou resistência dentro da legenda em razão de outros nomes pessedistas preteridos em prol de sua candidatura.
No início de sua administração, o então governador tinha uma boa relação política com os generais. Mauro foi, inclusive, aluno de Castello Branco na Escola Militar. Entretanto, a tranquilidade deu lugar a desentendimentos quando o pessedista começou a ignorar interesses federais. A exploração de minérios no Estado foi um dos temas que implodiu a relação de Mauro com o regime militar e provocou sua deposição do governo.

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