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Goiânia, Goiás, Brazil
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sábado, 15 de agosto de 2009

IR AO RIO DE JANEIRO PARA OS GOIANOS
































A primeira foto: Tibel na praça da Praia Vermelha - eu no alpendre da casa dos tios com uma prima em 1957. Em 2005, voltamos lá para ver como estava: Bira sentou, como fazíamos, na mureta para apreciar a bela vista: atrás - o Iate Clube e o Corcovado e minha irmã e eu posamos em frente à casa número 72 da Rua Ramon Franco, Urca, aonde por diversas vezes me hospedei, dos cinco anos até me casar. A casa continua sendo de um primo. Saudosismo...
Pode ser saudosismo, quem não sente saudades do que foi bom? Desde menina tenho fascinação com a cidade do Rio de Janeiro. Minha mãe dizia: "só pode ser por causa do nome da avó - Maria Dulce - carioca, mãe de minha mãe, que faleceu 15 dias após o parto, com apenas 20 anos. Quando eu nasci, em homenagem a ela, recebi este nome que inicia com Mar - termina com ia, fazendo um trocadilho - "para o MAR ela IA", brinco com ela. E Dulce, doce, em espanhol, o contrário de salgado que é o mar.
Brincando assim, sempre consegui que meu pai me deixasse passar o verão no Rio de Janeiro, contra a vontade de minha mãe que era muito severa e achava que "moça de família boa" não deveria ter e/ou fazer algumas coisas ditadas pelos costumes passados, o que lhe foi ensinado pelas freiras do colégio em Goiás, porque minha bisavó, com quem ela foi criada, frequentava a igreja uma vez ao ano na festa de Nossa Senhora do Rosário, embora fosse católica e tinha uma mente aberta para o moderno, moderno até demais segundo minha própria mãe. Ela, na decada de 20 dizia a suas filhas: "mulher tem que ter uma profissão e ganhar o seu dinheiro, portanto vocês tem que estudar, antes de casar". Assim, as quatro se formaram, duas em contabilidade e duas eram normalistas, todas trabalhavam. Seus quatro filhos se formaram também, dois eram médicos formados no Rio de Janeiro; os dois outros um se tornou Desembargador e o outro Conselheiro do Tribunal de Contas. Minha mãe, antes de casar, terminou seu curso Normal - a habilitava para ser professora.

A primeira vez que fui ao Rio de Janeiro estava com cinco anos, fui para fazer uma pequena cirurgia plástica para retirada de um quisto sebáceo em minha pálpebra esquerda. A viagem em si foi uma epopéia. O vestido era de festa, meias bordadas, luvas e bolsa bordadas com perólas pequeninas, tudo isso, para tomar o avião, a hélices - não tinha jato ainda. O aeroporto no Rio era o Santos Dumont. Meu pai se hospedou no Hotel Glória, lindo, o pouco que me lembro são os corredores largos e os quartos espaçosos. Eu fiquei com meus tios, por causa da cirurgia.

Já em 1963, eu com 11 anos de idade, iniciei minhas idas de verão ao Rio. Primeiro tive a minha fase de "dama de companhia" para uma tia solteira, muito querida por todos, a tia Izabel. Como eu tinha verdadeira paixão pelo Rio de Janeiro, ia com ela todas as férias de verão visitar a sua irmã, foram quatro anos seguidos. Tibel, carinhosamente assim chamada, estava com 51 anos de idade, bonitinha, era bem feita de rosto, tinha um nariz de boneca de tão pequeno, fino e arrebitado. Media 1,45 de altura e a maior glória dos sobrinhos era quando o pé ultrapassava o número que Tibel calçava, já que para nós ela era um adulto, mas só que o pésinho era número 32. Era a tiazinha, por causa do seu tamanho e porque ela bajulava bastante os sobrinhos.
A viagem para o Rio era longa demais e muito cansativa, o transporte era o ônibus - poderia ser avião, mas ela dizia "é caríssimo", mas na verdade, faltava era coragem, ela era do tempo que se viajava em carro de boi, a cavalo e depois em jardineiras - tipo de ônibus.
O ônibus saía de Goiânia às seis da tarde, era proposital, assim os passageiros poderiam dormir até a chegada, de manhãzinha, em São Paulo. Muitas vezes era assim, direto, sem atropelos, mas, quando chegava nos trechos da estrada sem asfalto, era triste, até atolar já atolamos, ficamos umas cinco horas esperando socorro chegar e tirar o ônibus da lama.

Na Rodoviária de São Paulo havia uma multidão, pois era também terminal rodoviário e além disso, eram as férias de verão. Tibel, acostumada a fazer esta viagem me disse: "tome o dinheiro, você sobe as escadas, dois lances"... explicava todo o caminho para chegar até ao guichê da Viação Cometa, a melhor empresa que fazia o trecho São Paulo/Rio. Lá ia eu, sozinha, uma menina do interior de apenas 11 anos, mas como sempre fui determinada, segui sem avaliar o momento, até porque era muito diferente de hoje. Enquanto eu fui comprar as passagens Tibel ficou na plataforma de embarque cuidando das nossas duas malas e mais uma mala de presentes, doces e coisas da terra para a tia (irmã de Tibel) que nos hopedaria. Eu me senti uma figura importantíssima, andando no meio de uma multidão, em um lugar desconhecido, até me distraí olhando tudo a minha volta até chegar ao guichê. Tinha uma fila pequena, logo foi a minha vez, pedi as duas passagens para o próximo ônibus, era de hora em hora, paguei e voltei para a plataforma número cinco aonde Tibel me esperava para seguir para o embarque da Viação Cometa. Tudo tranquilo, as pessoas eram educadas, apesar da rodoviária ser cheia de diferentes tipos de pessoas, não havia tumulto e nada de anormal acontecia.

Atravessavamos as raias e logo enxerguei alguns ônibus da Viação Cometa, embarcamos no nosso para o Rio. Não me lembro bem, mas acho que eram 8 horas de viagem, pois a Rodovia Dutra (estrada) ainda não era toda de duas pistas, tinha um movimento imenso de caminhões. Quando chegava na Serra das Araras, perto do Rio, minha nossa, o ônibus andava a vinte por hora, em fila, atrás de caminhões que soltavam (para mim) um cheiro insuportável de óleo diesel queimado. Eu enjoava muito, abria a janela, mas nada, tinha que ter paciência até começar de novo a desenvolver velocidade e ventilar um pouquinho. Era terrível. Tibel dizia: "pensa que estamos chegando". A proximidade do Rio de Janeiro me sarava.
Chegando ao Rio tinha que passar pela avenida Brasil sentindo aquele cheiro do mangue - "catinguento" a esgosto, é assim até hoje. A Rodoviária era mais perto do elevado Paulo de Frontin, pegávamos um taxi e pedia: "Ramon Franco, 72, na Urca", era a rua de acesso ao bairro da Urca, os ônibus passavam por ela e quem morasse na Urca, também. A Urca era super tranquila. A casa de meus tios ficava aos pés de um morro, tinha dois andares e a escada principal era uma obra de arte - linda.
Os tios e os filhos nos esperavam, nesta época não tinha nenhum casado. Eram nove filhos três homens e seis mulheres. Era uma alegria a casa. Tinhámos que conversar e contar os casos sobre a família em Goiás. A tia saudosa queria saber notícias de todos. Logo Tibel e eu íamos passear, ali mesmo na Urca, andando pela calçada que margeava o mar. Coisa linda. Lá pertinho está o Iate Clube, cheio de barcos ancorados. O cheiro gostoso da maresia e a vista maravilhosa de um lado o Corcovado e do outro o Pão de Açucar...
No outro dia cedo, fomos à Praia Vermelha, a areia da praia da Urca era grossa e a água gelada demais, ruim para banhistas. A pé, andávamos dois quarteirões até chegar à Praça que fica em frente a Praia, aonde tem o prédio que é a entrada para pegar o bondinho para o Pão de Açucar, neste tempo era o bondinho antigo. Ficávamos até as doze e meia na Praia, pois à tarde tinha outros passeios.
Eram os últimos anos do bondinho que subia a ladeira que separava Copacabana de Botafogo, Urca e Praia Vermelha. Tibel adorava andar de bondinho que ia até certo ponto de Copacabana. Andávamos até o nosso destino, a Confeitaria Colombo. Era um impacto total entrar naquele majestoso lugar. As escadas com corrimão dourado, se destacavam. As vitrines cheias de doces e salgados; em demonstração nas estantes estavam caixas, latas com a imagem da Confeitaria Colombo, tudo exposto elegantemente. As mesas arrumadas para o chá, eram encantadoras. Ficavámos ali um tempo bom, por fim Tibel comprava uma lata de "Marrom Glacê", ela gostava, para mim era quase um doce de batata doce, que meu pai brincava dizendo: "qual é o doce mais doce? É o doce de batata doce." Hoje eu sei a origem do Marrom Glacê, um quilo das castanhas portuguesas só dá para fazer cem gramas do doce, por isso é caro.
Mais um dia no Rio e outro passeio, "hoje nada de praia, só a Cidade". Tibel tinha todos os endereços dos produtos importados - perfumes, cremes, azeite de oliva, e o mais importante para ela, o Sapateiro que fazia seus pequeníssimos sapatos com salto oito, só por encomenda, pois 32 é tamanho de criança. Sempre encomendava três pares. Os perfumes eram os de sempre e ela comprava muito, pois acreditem, antes de deitar, para espantar os pernilongos, ela passava perfume francês, pode? Comprava: Fleurs de Rocaille - Caron, Chantilly - Houbigant, Heurs Intime e outros, fazendo um pequeno estoque para um ano e também para presentear afilhadas e especialmente para minha mãe. Tudo isso era encontrado nas lojas da Rua da Alfandega, que tinha um cheiro de perfume no ar, as mulheres elegantes passeavam ali, cheirosas demais.
Cinema em Copacabana, era outro programa. Primeiro passear andando pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana. As senhoras de idade passavam um produto em seus cabelos brancos que os tornavam violeta clarinho, elegantes e cheirosas, eram até demais, meio enjoativo, o acentuado cheiro de flor.
Passear pelos departamentos da loja Sears, pela Galeria Menescal, Centro Comercial Nossa Senhora de Copacabana e tomar chá na Confeitaria Colombo. O Cinema Metro, era o "must". Copacabana era limpa, movimentada, tranquila e cheirosa, a rua era cheirosa porque as pessoas eram muito limpas e se arrumavam para sair às ruas, mulheres e homens eram elegantes. Dentro do cinema era gostoso o cheirinho de perfume no ar...
Nada é mais o mesmo, parecido talvez, e se passaram 48 anos...

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