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Goiânia, Goiás, Brazil
Escrevemos sobre assuntos ligados à história goiana, genealogia, artes, artesanato e assuntos de interesse de nossa família. Portanto, esse espaço pertence a uma pessoa somente, é público, todos podem ler se quiser, pois aqui publicamos vários tipos de assuntos, a grande maioria dos leitores se manifesta positivamente e com elogios, o que agradecemos muito. Os comentários devem ser acompanhados de identificação, com email, para que sua opinião seja publicada.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

MISSA DAS SETE NA CATEDRAL

Lucia, Telca, Regina, Telma, Maria Dulce e Tereza





Arlete, Regina, Eliane, Katia, Maria Dulce, Julia, Jane, Carmen Lucia, Yvonete.



Paulo, Ubiratan e Junior


Goiânia, tinha pouco mais de trezentos mil habitantes quando me tornei uma jovem, morando na jovem Capital, ansiosa por conhecer o mundo, por falar línguas, saber e saber muito.
O ensino nas escolas era muito bom, tinha qualidade, os professores tinham conhecimento profundo da matéria que lecionavam e mais, tinham orgulho da profissão de mestre. Eram cultos, sabiam ensinar.
As mocinhas estudavam em colégios de religiosos - católicos - no Colégio Assunção, hoje não existe mais, em seu lugar funciona a Saneago, lá perto do Estádio Serra Dourada que naquela época não existia. No Instituto Maria Auxiliadora, instituição que ainda existe no mesmo lugar, na Praça do Cruzeiro, era, à época, quase a última construção do Setor Sul, a rua 85 não era asfaltada e a Praça do Cruzeiro não era edificada. Tinha ainda o Externato São José, recém mudado para o Setor Oeste, o Colégio Santo Agostinho no Bairro Popular e o mais antigo estabelecimento de ensino religioso para mulheres, o Colégio Santa Clara, em Campinas.
Depois de formar no "Ginásio" a grande maioria das mocinhas iam fazer o curso Normal, só ministrado no Assunção ou no Instituto de Educação - colégio estadual.
As mais "corajosas" e quando os pais permitiam, iam para o Liceu de Goiânia, que para entrar era necessário prestar o teste de admissão, quase um pré-vestibular. A maior parte das mulheres, fazia o Clássico, curso de 3 anos se preparando para as Faculdades ligadas a Recursos Humanos como Direito, letras, sociologia, etc. Uma minoria fazia o temido Científico, preparatório para área de exatas e bio-médica como - Engenharia, Arquitetura, Farmácia, Medicina e outras. Este foi o curso que escolhi, Científico para Engenharia - a Faculdade de Arquitetura era a minha escolha para o curso superior. Na minha sala tinham 5 mulheres e 35 homens - nós éramos tidas como bichos estranhos no ninho e se fosse bonita, era mais estranho ainda, porque as moças se casavam cedo, pouco depois de terminar o Ginásio ou o Normal, entre 16 e 20 anos. Curso Superior não era a meta de todas as moças, podiam até sonhar em se formarem, mas muitas queriam mesmo era casar e ter sua família. As moças que iniciavam um curso superior, pretendiam que entendessem que não era só o casamento que as interessava, para elas estudar era muito importante, tanto quando casar e formar família. Talvez fosse mesmo o desejo delas, mas lá pelo segundo ano da Faculdade, apaixonadas, rendiam ao casamento. Foi assim comigo e com várias outras amigas. Entretanto, as mulheres desta geração abriram vários caminhos para as mulheres de hoje. A grande maioria se formou, algumas já eram casadas, com filhos e outras bem mais velhas se organizaram com a família e voltaram à faculdade para se formaram, tornando-se excelentes profissionais.
Em Goiânia não tinha muito o que fazer. À noite então, pouquíssimos bares, boate tinha uma que moça de "boa família" podia ir uma vez ou outra, senão ficava "falada" isto é, pessoa muito exposta, comum em festas - era puro preconceito dos antigos - O que a juventude goiana tinha era uma diversão ingênua e barata, não existia consumismo em bares e restaurantes, mesmo porque não existiam. As lojas boas que vendiam roupas "de marca" também não havia. A calça Jeans só tinha quem podia encomendadar a parentes e aos amigos que fossem aos Estados Unidos ou a Manaus, que era Zona Franca, isto é, podia vender produtos importados. Era comum as pessoas viajarem para fazer compras em Manaus. De uma maneira geral as nossas roupas eram feitas por boas costureiras - as calças compridas, os vestidos e inclusive o famoso biquine. Só quem ia para São Paulo e Rio de Janeiro podia comprar algumas peças de roupa e sapatos por lá, era o sucesso. Em Goiânia roupa de marca era coisa caríssima, tinha algumas poucas "Boutiques" que as vendiam, como a Pequetita, Martha, D. Vera, Elza e para os "playboys" ( moços in da época) tinha a loja do Lino e o Seu Gabriel. Ah meu Deus, era muito simples...
No sábado, após as aulas, as meninas desciam a pé, do colégio Auxiliadora para lanchar no "Lanche Alkar", na Avenida Tocantins com a Rua Três. O lanche era muito básico, tinha de novidade um Cachorro quente especial, a salsicha era assada na máquina importada e montada no balcão da vitrine, ficava ali rodando e rodando até ficar tostada. Era servido demtro do pão acompanhado com o novo molho de tomate "ketchup e a mostarda", era o máximo, delicioso. Tinha, também, o antigo "Mixto quente", sanduíche de queijo e presunto tostado com muita manteiga na chapa. Para acompanhar a gente pedia UMA, sim uma, garrafinha pequena de guaraná ou coca-cola. Para o final, o sorvete. Sorvete da Kibon, servido em taças com cobertura de caramelo ou chocolate e castanha de caju moída. Para os gulosos o "sunday Banana Split" um arranjado de três bolas de sovete de creme, com bananas cortadas em rodelas, cobertos com xarope de milho e castanhas de caju moídas, servido em uma vasilha tipo canonhinha.
Ficar ali no Lanche era coisa rápida, era só o tempo de comer e já estávamos prontos para ir embora, coisa de meia hora, porque à tarde tinha o programa de ir ao Clube.
Lá pelas duas horas da tarde, quem era sócio, ia para o Country, encontrar os amigos e ficava até o anoitecer. Era um Clube família, todos se conheciam, tipo "confiável" para as moças irem.
O domingo era uma rotina, pela manhã todos se encontravam em algum Clube - Country, Jaó, Oásis ou Jóquei. Esporte era uma coisa praticada sem compromisso, todos podiam jogar, até porque era uma maneira de paquerar, também.
A maioria de meus amigos e eu frequentávamos o Country Clube. Uma turma jogava volei, duplas se formavam para jogar frescobol e tenis e os homens gostavam muito do futebal. Mas, o melhor era tomar sol e ficar em volta da piscina de cima - na verdade a do meio - nesta época só existiam três piscinas, a de criança, a do meio (a nossa) e a do chafariz - acabada de ser construída, mas tinha muita criança brincando. Na antiga piscina, sob a sombra do coqueiro grande, que ficava ao lado da caixa de som, estava o nosso lugar predileto, quem chegava primeiro, pegava algumas cadeiras agrupava e guardava o lugar para os retardatários - era a "turma do coqueiro", que por muitos anos se reuniu ali, mesmo depois de casados e com filhos, até que a idade foi chegando, alguns se mudaram de Goiânia e a "turma" deixou o espaço para outros mais jovens e mais assíduos que nós.
Não era uma maneira muito educada de separar a turma, erámos meios "metidos a besta", mesmo porque o Clube era de todos, na verdade existia uma "tolerância" a este nosso hábito por sermos talvez, os sócios mais antigos, mas que era uma "chatura", confesso que era.
As moças iam almoçar em casa, lá pelas duas da tarde. Era assim, para que tivessem tempo de lavar e arrumar o cabelão compridos até a cintura e ir impecável assistir à missa das sete na Catedral Metropolitana. Todos iam, jovens de todos os setores se deslocavam para a Catedral. Sei lá se para assistir à missa mesmo, ou só para paquerar. A verdade era que a Igreja ficava lotada, com pessoas até do lado de fora. Era assim, todos os domingos. Uma Paquera Santa?
Acabada a Missa, os zeladores da Igreja, imediatamente, apagavam as luzes e a moçada atravessava a rua e se reunia na porta da minha casa, em frente à Igreja, na rua dez com a vinte. Sentados na mureta que cercava o jardim, os jovens conversavam, paqueravam e decidiam o que fazer. Sempre se decidia por ir dançar na casa de quem tivesse um bom som e bons discos. As casas eram perto uma das outras e nós íamos andando para a casa escolhida. A turma era animada, dançar era a melhor opção, paqueras ficavam radiantes diante da possibilidade de abraçar a sua paixão. Era fechar a semana fazendo o que havia de melhor, dançar coladinho, sentindo o cheiro da paquera. Era sempre assim, domingo, após a missa das sete, encontro dançante na casa de uma das meninas. Sem nada, sem salgadinho ou refrigerante, era só para dançar. Tirando a bossa nova, só tocava música estrangeira, de preferência os Beatles, Bee Gees, Rolling Stones, tocava muita música italiana, francesa, americana, são músicas de qualidade que tocam até hoje. Eram românticas, boas para dançar. Os meninos e as meninas treinavam durante a semana para dançar em grupos de cinco ou seis o Hully Gully e o Twist, tudo sincronizado, igualzinho, não se errava um passo. Eram poucas horas de diversão, das oito às onze, mas o suficiente para gerar uma alegria que permanecia sendo assunto por toda a semana. No máximo às onze horas terminava. As meninas iam para casa e eles tinham o privilégio de poder ficar até mais tarde e ir aonde quisessem...
Aqui encerra a primeira parte destes textos "jovens" goianos da década de 60. Quem quiser cooperar sinta-se à vontade, para mandar contribuição para o blog, os próximos assuntos: Rua Tocantins, as corridas de carro, as primeiras boates e bares. Histórias de um povo pacato - mas valente - história de uma Goiânia sem violência, com poucos lugares de lazer para os jovens. O que mais se fazia era ler, encontrar-se nas casas de amigos para escutar boa música e para bater papo (conversar).
Engraçado que a música sertaneja não fazia o menor sucesso entre os jovens desta geração, e muito pouco da música nacional, a turma "elitista" só escutava do Brasil a bossa nova.



Adorei seu texto sobre a missa das 7. Era exatamente igual sua descrição....que saudades!!!!!!!!!!! bjos regina

Sonia Agel comentou seu status:

"Maria Dulce, entrei no seu blog e fiquei encantada. Você me surpreende cada vez mais, sempre para melhor. Uma pessoa linda,inteligente, competente e sensível. Parabéns."

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