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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

ESPERANÇA


Se o que move o cristão é a fé e a fé está calcada na espera sempre de dias melhores, na espera de um dia ficar face a face com o Pai, os fiéis da Comunidade Atos estão esperançosos, confiantes. Nesse momento, há uma enorme esperança em cada coração que não caiu no desânimo, pelo contrário, acreditou que passados os dias da determinação da Arquidiocese, a Comunidade Atos abriria de novo as suas portas a todos os fiéis.
Não há porque desanimar se a própria Igreja Católica Apostólica Romana nos ensina a ter esperança. Nesse texto de Hermínio Rico encontramos alento a toda nossa espera.

“Pede-se um discurso de esperança. Pede-se em especial à Igreja. Fica cada cristão com o desafio de ajudar a dar sentido às dificuldades de todos e de aumentar o ânimo coletivo. A fé cristã tem recursos para transmitir essa esperança, acredita-se. E é verdade. Mas é preciso ter cuidado para não cair rapidamente num discurso fácil, nas aparências muito cheio de fé, mas de fato vazio e sem poder mobilizador, podendo até correr o risco de ser alienante. Um discurso muito pouco cristão, portanto. Oferta muito fraca seria.
A esperança cristã não é uma simples crença que tudo vai correr bem, roçando a superstição numa enigmática sorte que, vinda do céu, acabará por nos cair nas mãos. Ou um mero exercício de credulidade que passivamente assegura que Deus nos virá resolver todas as dificuldades. A esperança cristã não é uma aposta na probabilidade de um milagre exterior. É, isso sim, chamamento a uma abertura confiante à responsabilidade. A esperança não promete mudar nada por fora, mas muda radicalmente a atitude da pessoa por dentro, no modo como encara os desafios exteriores e lhes responde. A esperança cristã não altera a realidade em que a pessoa vive, mas transforma profundamente a forma como a pessoa vive essa realidade.
O fundamento da esperança cristã é o poder da presença ativa de Deus. Mas onde se mostra esse poder? A esperança cristã não assenta numa convicção que Deus nos vai tornar as coisas mais fáceis. Antes, acredita – e ao acreditar vai experimentando – que Deus nos dá a força para arrostar mesmo com as coisas mais difíceis. Aposta que, na abertura à relação com Ele, encontraremos confiança e resiliência para não temer e nunca desistir. E isso vai-nos dando a certeza que nada nos destruirá, porque o poder que nos sustenta é sempre mais forte.
A esperança salva-nos, antes de mais, da paralisia do medo e da lamentação, da tentação da fuga e da descrença nas nossas próprias capacidades. Ao defender-nos do cepticismo, no entanto, não nos desviar o olhar da realidade, em toda a sua dura e crua verdade. Sem nos dispensar dum realismo pragmático, a esperança chama à responsabilidade, ao empenho, e mesmo ao sacrifício, e exige iniciativa, criatividade, ação.
A ação que se nos impõe pode pedir-nos despojamento, retorno a um estilo de vida mais austero. Esperança não é fazer-nos crer que não perderemos nada, mas assegurarmo-nos que, mesmo que tenhamos de prescindir de muito do que consideramos imprescindível, há vida e gosto por ela bem para lá dessa privação.
A esperança não esconde a crise nem a pinta de outras cores. Mas não nos permite não fazer nada, antes nos impele a agir, mesmo na fragilidade da falta de soluções garantidas. Fragilidade não é impotência, é apenas convite a mover-se por um poder que não possuímos completamente. Esse poder, se nos deixamos conduzir por ele, logo nos dirá que, mesmo na fragilidade, somos mais fortes que as crises e acordará em nós capacidades desconhecidas. Esse é o poder da esperança: desloca a nossa confiança para um fundamento muito mais sólido do que o nosso ilusório domínio sobre todas as coisas.
A esperança cristã é uma esperança pascal, de passagem de morte a ressurreição. Passagem é começar num lado e chegar até ao outro, mas é preciso percorrer todos os passos intermédios. A passagem pascal não inventa atalhos nem se desvia da dureza do caminho, mas encontra força para ir até ao fim, provando que a vida movida pelo amor é mais forte do que cada uma a uma das ameaças que a confrontam. A esperança pascal não anula as tribulações, mas dá força para as superar. Afirma-nos que somos capazes. E aponta o triunfo de Jesus ressuscitado como fundamento e garantia.
A esperança põe-nos em atitude de passagem. Mas só há passagem se não recuamos nem paramos. Para a frente. Vamos!”

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