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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

DIANTE DA DOR - PADRE LUIZ AUGUSTO

Diante da dor 

Sábado de carnaval, a cidade está praticamente sem nenhum movimento, mas, nas estradas, o engarrafamento é grande. É uma multidão que sai à procura de alegria, entretanto, quando volta, quase sempre volta pior, porque essa sede de felicidade é grande demais para ser saciada em apenas quatro dias de carnaval. O espelho da vida diz que mais uma vez tomamos o caminho errado.

Na porta do Hospital Santa Maria, encontro uma família inteira em agonia pelo pai que está na UTI. Rezo com o Sr. Antônio e tomo a direção do Hospital Araújo Jorge, e, já na Portaria, encontro uma filha também em agonia pela mãe que foi submetida novamente a uma cirurgia e está em estado grave na UTI. Essa filha experimenta duas situações de dor: a mãe que havia perdido o nariz e que agora lhe é retirado o olho, e também pelo seu filho que, ao saber da situação da avó, entra em desespero e lhe diz que não vai mais rezar, porque ele rezou tanto, mas sua avó passa por esse sofrimento.

Já na UTI, rezando pela D. Nilza, sou chamado para ir a outro leito. É uma mulher muito jovem. Há um mês foi constatado que está com leucemia, rezo por ela, tentando conter o embargo da voz e as lágrimas, porque junto ao leito dessa doente está sua mãe de joelhos, clamando pela misericórdia de Deus. Quando eu lhe digo que a sua filha abriu os olhos, ela se coloca de pé, dizendo: “Filha, o Guilherme está bem, a mamãe está cuidando do Gui para você” (o neto de sete anos de idade).

Saio com o coração inundado pelas lágrimas e com vergonha de mim mesmo por perceber que nós, os cristãos de ponta, estamos perdendo a gratuidade, a capacidade de sentir a dor do outro, não ouço alguém dizer: “Vejam como eles se amam!” o egoísmo, o orgulho, a vaidade gritam mais alto, e quase sempre em nome de Deus. Que mundo é esse, onde a vida perde a força!? Quanta injustiça e indiferença que enfraquecem e ferem a esperança! Tudo que hoje o ser humano faz é pensando no retorno, no bem de si mesmo.

“Eu não consigo entender o desamor”, sobretudo, quando ele parte de mim mesmo, de quem se diz cristão. “Pai, será que o Senhor não vê, eu estou vivendo no sofrer?” Como a dor tem sido intensa, e os humanos se tornando tão desumanos! Solidariedade, amizade, fé, estão se tornando atitudes raras.

Chego ao Hospital das Crianças para rezar com a Cecília, que está na UTI desde o início de janeiro, ao seu lado encontro uma mãe tão jovem e tão cheia de fé e amor. Pai e mãe se juntam no cuidado de sua primeira filha.

São 17:00h quando chego ao Hospital Lúcio Rebelo. Que alegria, o Caio saiu da UTI!
Essa é uma realidade que a poucos interessa, muito menos em ritmo de carnaval. Nos hospitais, centenas de enfermos esperam por uma visita, enquanto pelas ruas muitos apertam o passo para ver o jogo na Serrinha e/ou buscam os bares da cidade, vendo a vida passar. E Jesus continua esperando por nós.

Os sentimentos se avolumam dentro de mim e com eles a certeza de que nada e ninguém neste mundo vai nos apartar do amor de Deus. Ainda que, por algum tempo, tudo é sofrido demais, e, por mais que o pecado esteja tão atuante e consiga produzir tanta morte, Jesus está no comando. Existe outra vida muito diferente dessa que o mundo nos apresenta, existe a vida que é dom de Deus para toda a humanidade, a vida que está no acolhimento da Palavra Amorosa e Misericordiosa do Pai: Jesus Cristo.

Eu e você nascemos para ser felizes. A dor existe, mas é o amor que vencerá. A resposta, como diz a canção, está na cruz: “Foi por ti, porque te amo”.

Com as bênçãos de Deus,

Pe. Luiz Augusto Ferreira da Silva

4 comentários:

  1. Maria Dulce bom dia, isto sim, é que faz a diferença entre o Pe. Luiz e outros por aí. Ele poderia estar no aconchego da família com seus país, porém, ele vai aonde precisam dele. Será que os "dirigentes" da cúria fizeram alguma visita em algum hospital? Esta é a realidade do seu carisma, ele faz acontecer.

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  2. so quem um dia recebeu uma visita dessas pode entender a sua importancia. Padre Luiz Augusto um dia visitou minha sogra e aconteceu um milagre, nao so em sua recuperação, mas em nossos corações.
    Força Padre Luiz Augusto, pois nao so seguimos o sr., mas temos suas atitudes como exemplo.
    Rosangela Maria

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  3. O Amor de Deus aflora em cada palavra esculpida pelas mãos do Pe. Luiz Augusto no emocionante texto acima. Até quando ficaremos correndo atrás de ilusões carnavalescas? Até quando daremos mais atenção para a bola que rola na grama que pro ser humano enfermo em uma cama? Parabéns Pe. Luiz Augusto pelo convite a esta reflexão. Obrigado pelas ensinamentos de cada dia. Que Deus lhe abençoe. Força Sempre!

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  4. Que maravilha ver um sacerdote com esse ardor missionario.
    O mundo precisa de padres assim. Nunca descança...
    está sempre junto de quem está precisando...
    Obrigada Pe. Luiz Augusto. Deus lhe abençoe sempre...

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